quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Terrível penitência de uma doce alma vítima! Madre Mariana aceita padecer os tormentos do inferno aqui na Terra para salvar a alma de uma irmã que seria condenada ao inferno.

POR: VIDA ADMIRÁVEL DA REVERENDÍSSIMA MADRE MARIANA DE JESUS TORRES.


Inferno que Madre Mariana padeceu para salvar a alma de sua pobre irmã.

Provas terríveis a que Deus a sujeitou durante cinco anos.

Pelo fim do primeiro ano de priorato de Madre Valenzuela, Madre
Mariana rezava certa vez como de Costume no coro inferior, onde também
estava a feliz convertida, quando foi arrebatada em espírito e viu a Jesus
Cristo que, triste e amoroso, olhando-a disse:
Esposa e querida minha, já é tempo de que sofras por cinco anos as
penas do Inferno que aceitaste com caridade heroica para salvar a alma de
tua pobre irmã. Prepara para isto teu ânimo e retempera teu espírito com o
dom da fortaleza, pedindo-o com insistência a meu Divino Espírito. Desce
ao fundo de tua alma, e, tomando-a com os braços da Confiança em minha
amorosa Bondade, encerra-a na chaga do meu flanco, que foi aberta para
asilo de minhas almas prediletas, colocando-a sob o maternal cuidado de
minha formosa Virgem Mãe.
Purifica mais tua alma com a graça da absolvição que receberás, com
aumento de fé e humildade, e amanhã, após permanecer contigo na Comunhão, ao se consumirem as espécies sacramentais, começará teu inferno".
E abençoando-a, o Senhor se escondeu em seu Sacrário, cárcere de amor.
Cessado o êxtase, Madre Mariana ponderou com a inteligência sutil
que de Deus havia recebido, a gravidade de seus padecimentos: tremeu à
vista deles, mas alegrou-se por sofrer para salvar do eterno fogo do Inferno
uma alma religiosa.
Chamou o Padre Menor que a ouvia em suas consultas íntimas e, comunicando-lhe tudo, confessou-se de uma maneira extraordinária para recebera absolvição. Essa alma humilde e santa não cometera em toda sua vida
senão ligeiras imperfeições, próprias à vida mortal. Preparou-se todo o dia
para receber, como se fosse pela última vez, a seu Deus na Eucaristia. Sentia
afetos ardentíssimos de amor, de gratidão, de fé; foi um dia cheio de júbilo.
***
Após a Comunhão, o Inferno...

Quando, pela manhã do dia seguinte, aproximou-se da mesa dos Anjos
para despedir-se, pelo longo período de cinco anos, da íntima união e trato
familiar que tivera com seu Deus, a Quem amava com todas suas forças
vitais, foi como se lhe arrancasse o coração. Não se cansava de estreita-Lo
contra seu peito, querendo se possível fosse, retê-Lo por mais alguns momentos. Mas sua hora havia soado.
Consumidas as espécies sacramentais, Madre Mariana sentiu uma forte
dor no coração, parecendo que o tiravam com violência de seu peito, e ela
ficou insensível a seu Deus... Veio-lhe o tédio em relação a Ele, e junto uma
espécie de ódio, um desespero no qual não há o menor vislumbre de esperança. Procurava refletir sobre o heroico sacrifício que havia feito em favor
daquela alma irmã para salvá-la, e ao invés de encontrar alívio, sentia raiva,
desespero e total desconfiança de Deus. Queria lembrar-se de que o divino
Coração amou-a até entregar-se por ela a cruéis tormentos e a humilhações
infinitas, sentia, porém, sobre si o peso do Sangue de Deus derramado em
vão por uma alma condenada!
Ela se recordava bem de todos os sublimes Mistérios do Deus humana-
do, de Sua Virgem Mãe, Pura e Imaculada desde sua concepção, mas estas
recordações constituíam para ela fonte perene de incessante raiva e desespero, ela se sentia uma filha da Imaculada Conceição, mas agora condenada.
De sua mente a noção de cinco anos se esvanecia e, pela frente, não
conseguia discernir senão uma eternidade de aflição. Queria animar-se
pensando que algum dia terminaria seu inferno, mas ouvia vozes roucas e
terríveis que lhe diziam descompassadamente: "Eternidade! Eternidade!... Para sempre, para sempre... No Inferno, nula é a Redenção! Monja
que desperdiçou o tempo, que dissipou inumeráveis graças, merece os tormentos inauditos e o mais horrível padecimento da pena de perdição..."
***
Os tormentos dos cinco sentidos

Recaíam sobre Madre Mariana os terríveis castigos dos sentidos. Seu
corpo era como uma brasa viva que ardia sem se consumir, em meio a dores
inauditas e indizíveis. Logo depois do calor, passava a um frio impossível de
ser expresso ou descrito, muito mais intenso do que se estivesse enterrada
sob uma colina de neve. Sua respiração era opressa por um peso imenso que
vinha, ora pelo fogo, ora pela neve...
Ante seus olhos surgiam horríveis visões infernais; seus ouvidos eram
fustigados atrozmente com as blasfêmias dos condenados e dos demônios;
inundavam-lhe o olfato odores repugnantes, mais intensos do que se tivesse
sobre si as imundícies de toda a humanidade; o tato era atormentado num
como que leito em que ela parecia jazer, duro, como a dureza do Inferno,
cheio de pontas agudas que a penetravam até as entranhas; e o paladar era
torturado por um sabor horrível, completamente desconhecido para ela,
além do enxofre derretido que, à força, os demônios faziam-na engolir,
dando-lhe de rijo duros golpes que lhe vergavam o cérebro, removendo-lhe
os miolos e incitando-a à raiva, à desesperação e à blasfêmia. Porém, durante esse tempo, nunca abriu os lábios para proferir a menor palavra sequer
em que transparecessem suas amarguras à sua Comunidade. Só o sabia o
Padre Menor que a assistia.
***

A rejeição de Deus

Sua memória era afligida pela lembrança das graças recebidas da amorosa Bondade de Deus e de Maria Santíssima, a Quem - na sua provação
parecia-lhe ter perdido para sempre. Causava-lhe também horror a recordação da graça da vocação religiosa e dos encantos da vida monástica, na
qual sofrera padecimentos tão grandes, mas que, comparados com os que
a atormentavam, pareciam-lhe verdadeiros gozos, pois era lhe dado então
amar a seu Deus, o que já na situação em que se encontrava já não podia
fazer.
Seu entendimento compreendia perfeitamente, e com maior clareza,
quem era Deus e Maria Santíssima, e o que era o Céu e o êxtase eterno em
que ali vivem os bem-aventurados. Mas sentia que para ela estava tudo acabado definitivamente, sem esperança nenhuma de possuí-los.
Sua vontade já não tinha liberdade para fazer o mal ou preferir a prática
do bem como em sua vida mortal, pois estava cativa e presa, sofrendo os
rigores da justiça divina. Queria recorrer à misericórdia e no fundo de sua
alma atormentada ouvia estes ecos: "Jé é tarde, tudo/passou, agora só te
resta castigo eterno. A justiça vingadora pesa sobre ti. O Inferno! O eternidade! ...” - “Ó tempo tão malogrado, ela se dizia, agora vejo que errei a
senda da verdade".
Madre Mariana carregava sobre si todos os pecados dessa sua irmã por
quem sofria, como se fossem pecados seus, e que a atormentavam com seu
peso e sua lembrança, na qual não havia esperança de alívio e menos ainda
de perdão, porque via a Deus desgostoso e irritado com ela, enquanto Maria Santíssima demonstrava-lhe indiferença, assim como seu Pai, o Serafim
Chagado, sua Mãe e Fundadora e todos os seus amigos celestiais.
Ela estava convencida de que era justa tal punição, tantos eram os pecados de sua irmã por quem devia expiar. Porém, o pensamento consolador de
que, nesse estado, era sobre a terra a alma mais amada de Deus  e que, se
sofria pelo espaço de cinco anos, foi por haver-se heroicamente sacrificado
a fim de salvar uma alma irmã escapava de sua mente e só lhe restava a
ideia de que estava condenada para sempre. E essas sombras tão tétricas que
lhe povoavam o espírito constituíam seu maior inferno.
Queria amar a Deus, elevar-se até Ele, e sentia-se repelida. Olhava
para Deus e, contemplando Sua infinita formosura, que para sempre havia
perdido, entrava num desespero tão angustiante, que vinha-lhe a vontade de
acabar com a própria existência. Como, entretanto, a alma é imortal, isso
enchia-a de um novo furor tão mais desesperador, que um inferno assim
era simplesmente incompreensível e inexplicável. Numa palavra, não havia
para essa criatura sofrida o menor consolo, a menor trégua em sua dor, nem
qualquer forma de alívio físico ou moral.
Todas as criaturas sem exceção tornavam-se para ela fonte de grande

tormento. As atenções e cuidados de sua Priora e da Comunidade aumentavam-lhe o sofrimento. Ela se considerava inteiramente só e irremediavelmente perdida, e além do mais vivia e respirava uma atmosfera de ódio.

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