POR: O DIÁLOGO - SANTA CATARINA DE SENA.
Visão sobre
o papa
Na terra,
quem possui a chave do sangue é o Cristo na terra . Certa vez eu te manifestei
essa verdade numa
visão, para
indicar o grande respeito que os leigos devem ter pelos ministros, bons ou maus
que eles sejam,
e quanto me
desagrada que alguém os ofenda. Pus diante de ti a Hierarquia da Igreja sob a
figura de uma despensa contendo o sangue de meu Filho. No sangue estava a
virtude de todos os sacramentos e a vida dos
fiéis. À
porta daquela despensa, vias o Cristo-na-terra,
encarregado
de distribuir o sangue e fazer-se ajudar por
outros no
serviço de toda a santa Igreja. Quem ele escolhia e ungia, logo se tornava
ministro. Dele procedia toda
a ordem
clerical; ele dava a cada um sua função no
ministério
do glorioso sangue. E como dispunha dos seus
auxiliares,
possuía a força de corrigi-los nos seus defeitos.
De fato, é
assim que eu quero que aconteça. Pela
dignidade e
autoridade confiada a meus ministros, retirei-os de qualquer sujeição aos
poderes civis. A lei civil
não tem
poder legal para puni-los; somente o possui
aquele que
foi posto como senhor e ministro da lei divina.
Não
perseguir os sacerdotes
Os ministros
são ungidos meus. A respeito deles diz
a Escritura:
"Não toqueis nos meus cristos" (Sl 105,15).
Quem os
punir cairá na maior infelicidade. Se me perguntares por que a culpa dos
perseguidores da santa Igreja é a maior de todas e, ainda, por que não se deve
ter
menor
respeito pelos meus ministros por causa de seus
defeitos,
respondo-te: porque, em virtude do sangue por
eles
ministrado, toda reverência feita a eles, na realidade
não atinge a
eles, mas a mim. Não fosse assim, poderíeis
ter para com
eles o mesmo comportamento de praxe
para com os
demais homens. Quem vos obriga a respeitá-los é o ministério do sangue. Quando
desejais receber os sacramentos, procurais meus ministros; não por
eles mesmos,
mas pelo poder que lhes dei. Se recusais
fazê-lo, em
caso de possibilidade, estais em perigo de
condenação.
A reverência é dada a mim e a meu Filho
encarnado,
que somos uma só coisa pela união da natureza divina com a humana. Mas também o
desrespeito.
Afirma-te
que devem ser respeitados pela autoridade que
lhes dei, e
por isso mesmo não podem ser ofendidos.
Quem os
ofende, a mim ofende. Disto a proibição: "Não
quero que
mãos humanas toquem nos meus cristos"!
Nem poderá
alguém escusar-se, dizendo: "Eu não
ofendo a
santa Igreja, nem me revolto contra ela; apenas sou contra os defeitos dos maus
pastores". Tal pessoa mente sobre a própria cabeça. O egoísmo a cegou
e não vê.
Aliás, vê; mas finge não enxergar, para abafar
a voz da
consciência. Ela compreende muito bem que está perseguindo o sangue do meu
Filho e não os pastores.
Nestas
coisas, injúria ou ato de reverência dirigem-se a
mim.
Qualquer injúria: caçoadas, traições, afrontas. Já
disse e
repito: não quero que meus cristos sejam ofendidos. Somente eu devo puni-los,
não outros. No entanto, homens ímpios
continuam a revelar a irreverência que
têm pelo sangue
de Cristo, o pouco apreço que possuem
pelo amado
tesouro que deixei para a vida e santificação
de suas
almas. Não poderíeis ter recebido maior presente que o todo-Deus e todo-Homem
como alimento.
Cada vez que
o conceito relativo aos meus ministros
não coloca
em mim sua principal justificativa, torna-se
inconsistente
e a pessoa neles vê somente muitos defeitos
e pecados.
De tais defeitos falarei em outro lugar.
Mas quando o
respeito se fundamenta em mim, jamais
desaparece,
mesmo diante de defeitos nos ministros;
como disse, a grandeza da eucaristia não é diminuída por causa dos pecados. A
veneração pelos sacerdotes não pode cessar; se tal coisa acontecer, sinto-me
ofendido.
O
grande pecado dos perseguidores
São muitas
as razões que fazem desta ofensa a mais
grave. Vou
lembrar apenas três. A primeira, é porque
os
perseguidores agem contra mim em tudo o que fazem em oposição aos meus
ministros. A segunda, é por que desobedecem àquela ordem pela qual proibi que
meus sacerdotes
fossem tocados. Ao persegui-los, os homens desprezam a riqueza do sangue de
Cristo recebida
no batismo.
Desrespeitando o sangue de Jesus e perseguindo os ministros, rebelam-se e
tornam-se membros
apodrecidos,
separados da jerarquia eclesiástica. Caso
venham a
morrer obstinados em tal revolta e desrespeito,
irão para a
condenação eterna. Se reconhecerem a própria culpa na última hora,
humilhando-se e desejando a
reconciliação,
mesmo que não o consigam fazer exteriormente, serão perdoados. Mas não devem
esperar pelo
momento da
morte, pois será incerto o próprio arrependimento. A terceira razão, pelo qual
este pecado é o mais
grave, está
no seguinte: é uma falta maldosa e deliberada. Os perseguidores têm consciência
de que o não devem cometer, sabem que vão pecar; cometem um ato de
orgulho, em
que não entram atrações sensíveis, muito
a remorsos
da consciência; o corpo, gastando seus bens
a serviço do
diabo e indo morrer como animais. Não,
este pecado
cometido contra mim não possui características de satisfação ou prazer
pessoais; acompanham-no
apenas os
desvarios e a maldade do orgulho! Um orgulho que nasce do egoísmo e daquele
medo próprio de
Pilatos,
quando matou meu Filho por temor de perder
o cargo. É o
que sempre fizeram e fazem os perseguidores. Os demais pecados procedem de uma
certa simploriedade, de ignorância ou de satisfação pessoal desordenada, de
certo prazer ou utilidade presentes no ato
mau.
Naqueles pecados, o homem prejudica a si mesmo,
ofende a mim
e ao próximo. Ofende-me por não me glorificar; ao próximo, por não o amar. Na
realidade, não
se ergue
frontalmente contra mim; ergue-se contra si
mesmo, e
isso me desagrada. Já no pecado de perseguição
contra a
santa Igreja, sou ofendido diretamente. Os outros vícios possuem uma
justificativa, uma razão intermediária. Já afirmei que todo pecado e virtude
são feitos no próximo. O pecado é ausência de amor por mim e pelos homens; a
virtude é amor caritativo. Neste
pecado, os
maus perseguem o próprio sangue de Cristo
ao se
investirem contra meus ministros, e privam-se de
sua riqueza
espiritual. Entre todos os homens, os sacerdotes são meus eleitos, meus
consagrados, são os distribuidores do sangue do meu Filho, em quem vossa
natureza
está unida à minha. Quando consagram a eucaristia, os ministros o fazem na
pessoa de Jesus. Como
vês,
realmente este pecado é dirigido contra meu Filho;
por
conseguinte, contra mim, pois somos um. É uma falta gravíssima. Não se dirige aos
ministros, dirige-se a mim. Também o respeito demonstrado para com eles,
considero-os
como se fossem para mim e meu Filho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário