domingo, 21 de setembro de 2014

Porque Maria Santíssima permanece virgem para sempre - explicação de São Tomás de Aquino.


POR: COMPÊNDIO DE TEOLOGIA - SÃO TOMÁS DE AQUINO.

FOI CONVENIENTE QUE CRISTO NASCESSE DE UMA VIRGEM

1 — Foi demonstrada anteriormente a conveniência de ter o Filho de Deus assumido a Sua
carne de matéria pertencente à natureza humana. Ora, como é a mulher quem fornece a matéria na
geração, foi também conveniente que Ele assumisse a sua carne de uma mulher. Lê-se, a respeito,
em São Paulo: "Enviou Deus o Seu Filho, feito de mulher" (Gal 4,4).
2 — Para poder fornecer a matéria para a formação do corpo humano, deve a mulher unir-se
ao homem. Vimos acima, contudo, que a formação do corpo de Cristo não devia ter seu princípio no
sêmen viril. Por isso, a mulher da qual o Filho de Deus assumiu a Sua carne concebeu sem
recebimento do sêmen viril.
3 — Sabemos que quanto mais um ser está repleto de dons espirituais, tanto mais está
separado das coisas carnais: pelas coisas espirituais o homem é atraído para o alto; pelas carnais o é
para baixo. Como a formação do corpo de Cristo devia ser realizada pelo Espírito Santo, convinha
também que a mulher, da qual Cristo tirou o Seu corpo, fosse ao máximo repleta de bens espirituais,
de modo que não só a alma fosse favorecida pelas virtudes, mas também o ventre, pela prole divina.
Convinha também que não só a alma fosse livre de pecado, mas que o corpo igualmente fosse
imune de toda corrupção carnal. Por esse motivo, a Mãe de Deus não teve experiência de união
carnal, não só na concepção do seu Filho, bem como nem antes nem depois.
4 — A virgindade de Maria convinha não só para ela, mas também para Aquele que dela
devia nascer. Ora, o Filho de Deus vinha ao mundo assumindo a carne para nos elevar, para nos
preparar para o estado da ressurreição no qual para os homens "não haverá noivado, nem
matrimônio, mas onde todos serão como os Anjos do céu" (Mt 22,30). Por isso Cristo propôs uma
doutrina que ensinava a continência e a integridade: para que na terra, de certo modo, já resplandeça
na vida dos fiéis a imagem da glória futura. Convinha, portanto, que também pela própria origem da
Sua vida recomendasse a integridade, nascendo de uma Virgem.
5 — É dito, porém, no Símbolo dos Padres: "que se encarnou da Virgem Maria", para que
fosse afastado o erro de Valentino e daqueles que afirmaram ter sido fantástico o corpo de Cristo,

ou de outra natureza, que a humana, e, como tal, não assumido nem formado no corpo da Virgem.


A PERPÉTUA VIRGINDADE DA MÃE DE CRISTO

1 — Se na primeira santificação a Virgem Maria foi fortificada contra todo movimento de
pecado, como anteriormente
foi relatado, quando o Espírito, conforme a palavra do Anjo, a ela desceu para formar o corpo de
Cristo, então a graça Lhe foi muito mais aumentada e a inclinação ao pecado foi-Lhe também
enfraquecida, e, mesmo, totalmente afastada.
Por esse motivo, após ter sido ela feita o sacrário do Espírito Santo e o habitáculo de Deus,
não só deve acreditar-se não haver n'Ela mais movimento para pecado, bem como que não tivesse
experimentado deleite de concupiscência carnal.
2 — Deve, por isso, ser abominado o erro de Helvídio, que, embora tenha afirmado ter
Cristo sido concebido e nascido de uma Virgem, contudo, ensinava que, após o parto, ela gerara
outros filhos, tendo José como pai deles.
Tal erro não pode ser fundamentado no Evangelho de São Mateus, onde há um texto em que
se lê que José "Não a conheceu (isto é, à Virgem Maria) até que ela desse à luz o seu filho
primogênito" (Mt 1,25), como se, após ter Ela dado à luz Cristo, José a tivesse conhecido. Não
pode, porque até ("donec"), neste texto, não significa um tempo finito, mas, indeterminado.
Sabemos que é costume, na Escritura, afirmar-se que tenha algo sido especialmente realizado, ou
que não se tenha realizado, até que se venha a duvidar dessa afirmação.
Assim é que é dito no Salmo 109 "Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus
inimigos por escabelo dos teus pés" (Sl 109,1). Ora, poderia haver dúvida se Cristo estava sentado à
direita de Deus enquanto não estivessem submetidos a Ele os Seus inimigos, mas depois se viu que
foram, e a dúvida não mais poderia permanecer.
Assim também poderia haver dúvida se antes do parto do Filho de Deus, José tivesse
conhecido Maria. Por isso o Evangelista teve o cuidado de afastar essa dúvida, estabelecendo como
indubitável que José não A conheceu, porque após o parto, de fato, não A conheceu.
3 — Tal erro também não pode ser fundamentado no fato de Cristo ter sido, no texto citado,
chamado de primogênito, como que, devido a essa denominação, Maria tivesse tido outros filhos,
depois de ter Cristo nascido. A Escritura, com efeito, chama de primogênito o filho antes de quem
nenhum outro é gerado, conservando, mesmo que após também nenhum seja gerado, essa
denominação, como se lê, a respeito dos primogênitos, que eram, conforme a Lei, santificados pelo
Senhor e oferecidos aos sacerdotes (Cf. Ex. 12,29; 34,19).
4 — Nem pode esse erro ser fundamentado no texto evangélico no qual alguns são
chamados irmãos de Cristo, como se, devido a essa expressão, Sua Mãe tivesse outros filhos (cf.
Mt. 12,47). É sabido que a Escritura costuma chamar de irmão todos aqueles que pertencem à
mesma linhagem, como se lê que Abraão chamou Lot, que era seu sobrinho, de irmão (cf. Gen.
13,8). É conforme essa denominação que são chamados de irmãos de Cristo os sobrinhos e outros
consangüíneos de Maria, bem como os consangüíneos de José, que era tido como pai de Cristo.
5 — Por isso, é declarado no Símbolo: "Que nasceu da Virgem Maria", onde Maria é
denominada Virgem no sentido pleno da palavra, porque ela permaneceu virgem antes do parto, no
parto e depois do parto.
6 — Até aqui já falamos suficientemente a respeito da intangibilidade da Sua virgindade
antes e depois do parto. Convém agora esclarecer que nem mesmo no parto a virgindade de Maria
foi violada. O corpo de Cristo, que entrou no recinto em que os discípulos encontravam-se estando
as portas fechadas, pôde também, pelo mesmo poder, sair do útero fechado da Virgem. Realmente,
não era conveniente que, ao nascer, destruísse alguma integridade, Aquele que devia justamente
nascer para restaurar a integridade da natureza humana corrompida.

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